O presidente Petro afirma que seu governo conseguiu o que "nenhum outro presidente conseguiu" ao melhorar a saúde das crianças: Quão verdadeiro isso é?

Ontem, domingo, durante a posse do quarto mandato do Congresso, o presidente Gustavo Petro defendeu as ações de seu governo na atenção à saúde da primeira infância e afirmou que, em três anos, seu governo aprimorou o sistema, apresentando indicadores que, segundo ele, demonstram um progresso significativo na salvação de milhares de vidas de bebês e crianças.

"Aqui me sinto orgulhoso como indivíduo, porque como presidente da Colômbia posso mostrar a vocês o que talvez nenhum outro presidente conseguiu fazer: que em três anos conseguimos salvar a vida de milhares de bebês, meninos e meninas que teriam morrido se não tivéssemos implementado as reformas, se não tivéssemos ousado, se não tivéssemos sofrido por governar", afirmou o presidente.

Posso mostrar a vocês o que nenhum outro presidente conseguiu fazer: em três anos conseguimos salvar a vida de milhares de bebês, meninos e meninas.

Ele também anunciou que a saúde será o tema central de um debate nos próximos dias. "Hoje, temos três anos de experiência. E podemos dizer que muitas dessas coisas funcionam, e funcionam bem. E vou provar isso a vocês", disse ele, antes de apresentar diversos dados e gráficos que mostram a evolução do sistema durante sua gestão.

Durante seu discurso, Petro pediu ao Ministro da Saúde que se levantasse e pediu aplausos. Posteriormente, na rede social X, o chefe de Estado defendeu que "os resultados observados através dos indicadores fundamentais de morbidade e mortalidade interromperam seu declínio há uma década, apesar dos avanços científicos".

No entanto, essas declarações foram questionadas por especialistas como o pesquisador de saúde pública da Universidade de Harvard, Johnattan García-Ruiz, e o ex-ministro da Saúde, Alejandro Gaviria, que, com base em dados históricos, negam que o progresso seja exclusivo do governo atual ou que tenha sido interrompido há uma década, como alegou Petro.

Um ponto-chave, ambos os especialistas observaram, é que os indicadores de saúde, especialmente a mortalidade infantil, têm mostrado um declínio sustentado por 20 anos, não apenas nos últimos três anos do governo Petro.

Segundo García-Ruiz, embora seja verdade que a mortalidade infantil tenha diminuído durante esta administração, a tendência geral do sistema é de declínio neste indicador, graças ao progresso geral em ginecologia, obstetrícia e saúde na primeira infância.

“É verdade que diminuiu (ótimas notícias), mas estamos em declínio há 20 anos. Diminuiu em 15 dos 20 anos. Por enquanto, esse indicador durante o governo Petro é muito semelhante ao dos anteriores. Em 2024, diminuiu menos do que em 2023”, explicou García-Ruiz.

Nesse sentido, o que os dados mostram é que as melhorias fazem parte de uma tendência marcante, e os resultados do atual governo não apresentam ruptura significativa com os de gestões anteriores.

Por sua vez, Alejandro Gaviria acusou Petro de manipular dados: “O presidente Gustavo Petro não está dizendo a verdade. Ele está mentindo. Ele diz que os indicadores de saúde não melhoraram em dez anos. Vejam o gráfico. É mentira”, enfatizou o ex-ministro, apresentando números da ONU sobre mortalidade infantil que mostram claramente como esse flagelo tem diminuído constantemente desde 1991.

Gaviria também destacou que o uso de números provisórios, como os usados por Petro em sua apresentação ao Congresso, distorce a realidade, pois não reflete uma análise completa das tendências históricas. Segundo Gaviria, a narrativa do presidente omite o contexto de esforços anteriores de outros governos, que contribuíram significativamente para o progresso da saúde.

“Os números mais recentes, sem ajustes, costumam apresentar grande subnotificação, o que invalida a comparação apresentada. O presidente interpreta essa comparação problemática como evidência das conquistas de seu governo. Uma interpretação fraudulenta. Também não leva em conta as tendências de melhora que ocorreram antes”, acrescentou Gaviria.

Por fim, García-Ruiz acrescentou que, de qualquer forma, o desempenho do atual governo em indicadores-chave como a mortalidade infantil não é excepcional. "Por enquanto, este indicador durante o governo Petro é muito semelhante ao dos anteriores", afirmou, enfatizando que as melhorias não são exclusivas deste governo.

Jornalista de Meio Ambiente e Saúde